O Jardineiro Timóteo
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Verdadeiro poeta, o
bom Timóteo.
Não desses que fazem
versos, mas dos que sentem a poesia sutil das coisas. Compusera, sem o saber,
um maravilhoso poema onde cada plantinha era um verso que só ele conhecia,
verso vivo, risonho ao reflorir anual da primavera, desmedrado e sofredor
quando junho sibilava no ar os látegos do
frio. O jardim tornara-se a memória viva da casa.
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O canteiro de Sinhazinha
era de todos o mais alegre, dando bem a imagem de um coração de mulher rico de
todas as flores do sentimento.
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pé de flor-de-noiva, primeira “planta séria” ali brotada marcou o dia em foi
pedida em casamento. Até então só vicejavam nele flores alegres de criança –
esporinhas, bocas-de-leão, “borboletas”, ou flores amáveis da adolescência –
amores perfeitos, damas-entre-verdes, beijos-de-frade, escovinhas, miosótis.
Quando lhe nasceu,
entre dores, o primeiro filho, plantou Timóteo os primeiros tufos de violeta.
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Já o canteiro de
Sinhô-moço revelava intenções simbólicas de energia. Cravos vermelhos em
quantidades, roseiras fortes, ouriçadas de espinhos, palmas-de-santa-rita, de
folhas laminadas; junquilhos nervosos.
E tudo mais assim.
Timóteo compunha os
anais vivos da família, anotando nos canteiros, um por um, todos os fatos de
alguma significação.
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Trecho do Conto "O Jardineiro Timóteo", do livro "Negrinha" de Monteiro Lobato - 1920
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O livro é composto de vinte contos, que vale a pena a leitura.