
Olho pela janela, o céu está nublado e o um vento leve passeia por entre as árvores.
Aqui e lá fora, a vida nada tem de artifícios ou de perdida, é real, impaciente, ardente de desejos, e consiste em estar viva.
Tudo o que a gente vive vai sendo guardado num baú mágico e imenso – a nossa memória – e a gente vai mergulhando numa viagem pelo tempo, alcançando o momento num claro labirinto, desfrutando a alegria de nele estar presente. E as lembranças vão surgindo como as flores de um grande ipê, colorindo de rosa o chão da nossa mente...
A casa com o portão sempre aberto, escancarado para a vida; o jardim, com sol ou com chuva com seus canteiros floridos. De dia o cheiro das rosas, de noite o embriagante cheiro da dama-da-noite e o suave aroma do jasmim...
Era uma vida feita de horas eternas... Nuvens de carneirinhos, bolhas de sabão, pipas, bolas de gude e brincadeiras de roda...
Toalhas bordadas forrando a mesa para o lanche, às três da tarde. Mingau de aveia Quarker, broinhas de coco, bolo de milho, café com leite...
Histórias à beira da cama, e a nossa mãe nos olhando, sorrindo...
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Sabe quando a gente fica imaginando como as coisas serão?
O tempo vai passando, se esticando. E de repente chega um momento em que se toma consciência do que a gente é, do que a gente viveu.
E saber que valeu a pena.
Aceitar naturalmente as perdas, conquistando maior paz, sentir-se mais consciente, mais verdadeira, inteira, mais sensível ao real.
E saber-se capaz de aceitar as mudanças do corpo, as gordurinhas extras, as estrias do “estica-encolhe”, e saber se orgulhar delas, pois são marcas da vida.
Aprendi, hoje sei, a tornar mágico o momento. Descer, subir... vencer batalhas, mesmo quando as perdendo.
E saber que, na verdade, tempo haverá para muitas outras coisas: tempo para o amor, tempo para os amigos e tempo ainda para uma centena de indecisões.
E saber-se fonte de pura energia, capaz de olhar para frente, para o futuro, batalhar para alcançar a vida, renascer a cada dia... e amar sempre.
FOTO: A Natureza me deu de presente a visão dessas flores do Ipê, que sempre teima em dar flores no inverno, e este ano, em particular, ela escolheu a semana do meu Aniversário.
Mais fotos deste Ipê AQUI.
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