
Capas de 3 edições
O Não Me Deixes, livro de Rachel de Queiroz, onde ela conta passagens da sua vida na Fazenda (de mesmo nome), no sertão cearense.
Histórias deliciosas, ora fictícias, ora reais, sempre acompanhadas de receitas da cozinha do sertão cearense.
Além da culinária, o livro fala da vida do sertanejo. Uma vida simples e econômica, uma enorme lição de vida.
Tapioca, café, farinha, feijão, arroz doce...e baião de dois, são alguns dos ítens presentes no livro.
Alguns trechos:
“Como quase tudo na cozinha sertaneja, a tapioca envolve um esmerado trabalho artesanal. A goma da mandioca deve ser umedecida com água de sal e depois esfarelada. Então, deve ser espalhada em uma pequena frigideira bem quente; o calor faz a goma se aglomerar. Nise a virava, girando no ar como uma panqueca, para então assar do outro lado. Eu comia ali mesmo, na beira do fogão, passando muita manteiga encima." pág. 14
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"Um cheiro que também não posso esquecer era o do café, principalmente quando estava sendo torrado, no quintal dos fundos, pela Consuelo. Ela mexia os grãos em um tacho com uma grande espátula de madeira e eu ficava em volta recebendo no rosto aquele vapor delicioso. " pág. 17
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"A cozinha da minha avó era farta e generosa. Todo dia além da família, que comia na sala, almoçavam na mesa rústica da copa empregadas da casa, moradores que estivessem fazendo algum serviço no pátio da Fazenda, além de muitos agregados e visitantes, pessoas humildes que vinham pagar uma visita à dona Rachel, fazer algum pedido ou trazer-lhe algum agrado, uma galinha, uma dúzia de ovos, um jerimum. Havia também os que vinham se consultar de graça com meu avô, que era médico. Nise era orientada a nunca deixar ninguém sair do Não Me Deixes com fome." pág. 18
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"A cozinha sertaneja, de um modo geral, não sendo rica nos salgados, se supera em doces e sobremesas: bolos de infinitas variedades, arroz doce, aletria, broas de goma. Copiavam-se as receitas, de mão em mão, e podia-se jurar que na mesa de domingo, na maioria delas aprecia uma versão do bolo ou do doce que fora copiado. Ganhava a festa produtora do melhor bolo apresentado." pág. 48
E ainda o baião de dois com receita e modo de fazer:
"O baião de dois – traduzindo: feijão com arroz – é um dos pratos tradicionais da cozinha nordestina. Claro que não é a simples mistura de feijão cozido com arroz cozido. Tem preparo específico, o feijão com seu tempero próprio e determinado ponto de cocção recebendo o arroz, que cozinha naquele caldo de feijão enriquecido. Existem várias maneiras de fazer o baião-de-dois, mas essa é a usamos no Não Me Deixes.
Para duas partes de feijão (de preferência feijão de corda maduro), uma parte de arroz.
Cozinha-se o feijão com os temperos: toucinho, carne-de-sol, charque e um refogado de cebola e alho feito em azeite doce.
Quando o feijão estiver cozido, põe-se o arroz e deixa-se em fogo brando. Acrescenta-se cheiro-verde (coentro e cebolinha) e, pouco antes de tirar do fogo, enfiam-se pedaços compridos de queijo (como palitos) até que derretam.
Não se esquecer, quando o baião estiver pronto, de jogar por cima uma boa porção de torresmo."Um livro que mexe com os nossos sentidos.
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